Enquanto o papa Francisco, numa visita histórica ao
Brasil, reza, evangeliza, abraça, beija e ataca a corrupção, seguem as revelações
de danos milionários do pagamento de propinas no Brasil, os Estados Unidos
aparece em novo caso de espionagem, e o governador Sérgio Cabral, do Rio de
Janeiro, sofre forte desgaste com manifestações de protesto.
Francisco, obviamente, dominou o noticiário da semana
passada em todos os meios de comunicação do país. Continuará repercutindo por
mais alguns dias. Ganhou de Veja (31 de julho, data de capa) o
que a revista chama de edição comemorativa. “Papa Francisco no Brasil – “Quero
que a Igreja vá para as ruas”, destaca.
ESPIONAGEM
Época (dia 31, data de capa) traz, com
exclusividade, “A espionagem digital dos Estados Unidos” – o governo americano
espionou oito países, entre eles o Brasil, para aprovar sanções contra o Irã
nas Nações Unidas.
O governo do presidente Obama dera sinal verde para
Brasil e Turquia negociarem com o Irã (sobre enriquecimento de urânio, vetado
por acordo internacional). Em seguida, passou a demonstrar ceticismo com a
negociação. “Espionou as delegações de outros países, trabalhou pelas sanções e
vendeu. O Brasil ficou do lado perdedor”.
A operação de espionagem foi um sucesso. Deu aos
Estados Unidos “uma vantagem nas negociações”, segundo a então embaixadora do
país na ONU, Susan Rice. “Me ajudou a saber se outros integrantes permanentes
(do Conselho de Segurança da ONU) estavam dizendo a verdade”. O Itamaraty não quis
se pronunciar a respeito, registra Época.
SUPERFATURAMENTO
Também como exclusivo aparece o conteúdo de IstoÉ
(dia 31, data de capa). A reportagem é sobre o chamado “Escândalo no Metrô”
paulista – “A fabulosa história do achaque de 30%”. Segundo a revista, ao
analisar documentos da Siemens, empresa integrante do cartel que drenou
recursos do Metrô e trens de São Paulo, o Cade (Conselho Administrativo de
Defesa Econômica) e o Ministério Público concluíram que os cofres paulistas
foram lesados em pelo menos R$ 425 milhões.
“Empresas do cartel (denunciadas pela própria Siemens)
se associaram para vencer a licitação da fase 1 da Linha 5 Lilás do metrô
paulista. Para obterem o contrato, orçado em R$ 615,9 milhões, elas teriam dado
7,5% de propina. Três contratos investigados até agora pelo Cadê o sobrepreço.
Dois na Linha 2 Verde e um na 5 Lilás – um superfaturamento de R$ 252 milhões.
Acordos entre o cartel e a estatal CPTM (Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos) indicam prática de preços 30% superiores aos normalmente
praticados em quatro projetos (superfaturamento de R$ 173,1 milhões)”.
Na coluna Radar, de Veja, Lauro Jardim
escreve a nota “Da Siemens para Itajubá”. “Adilson Primo, que comandou a
Siemens durante anos e foi demitido da presidência por suspeita de fraude,
trabalha hoje na Secretaria de Administração e Gestão da pacata Prefeitura de
Itajubá, Minas Gerais. Se quiser, pode ajudar – e muito – na delação premiada
que a empresa propôs ao Ministério Público de São Paulo sobre um esquema de
cartel em licitações públicas feitas por governos tucanos no estado”.
“FOMOS OMISSOS”
Na mesma edição sobre o cartel, IstoÉ entrevista o
ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho,
apresentado como um dos mais fiéis auxiliares do ex-presidente Lula. “Fomos
omissos” é o título do texto de Paulo Moreira Leite. “Ministro diz que governo
tem muitas conquistas, mas se acomodou e não deu respostas para questões
urbanas graves, aumentando o mal-estar da população”.
BRASILEIRO LIMITADO?
A escritora Lya Luft, colunista da Veja,
não acha graça quando dizem que alguma falha, bizarrice, relaxamento ou
incompetência é o jeito brasileiro. “Não concordo quando autoridades dizem que
atrasos em ocasiões oficiais fazem parte da cultura brasileira... Não acho que errar
o trajeto ou combinar mal ou nem combinar nada sobre o trajeto de um papa,
sabido séculos antes, nas tantas vezes convulsionadas ruas do Rio atual, seja
apenas jeito brasileiro. E, se for, a gente tem de corrigir”.
Seu artigo, “O jeito brasileiro”, segue:
“No Brasil é assim...”. “Será? Será bom? A gente deve
achar graça e se orgulhar? Houve um momento em que uma autoridade afirmou que
caixa dois no Brasil é normal. Será? E então como falar de ética, honradez,
transparência, palavras que se vão gastando de tão mal usadas?”, questiona Lya
Luft, que me fez lembrar o fato seguinte.
Na semana passada, em rádio de São Paulo, pela manhã, correspondente
do Rio de Janeiro, de quem infelizmente não guardei o nome, disse que o
brasileiro não tem raciocínio para a diversidade. Vive à base de fazer “uma
coisa de cada vez”, falou. Não é capaz, de pensar um evento no Maracanã e suas
variáveis, como vias de circulação, utilização de banheiros etc. Foi por aí. Ou
seja, segundo ela, o brasileiro ainda é um atrasado, um limitado, para eventos
de grande porte.
(Observo que, no geral, o que coube à Igreja organizar
– com a participação de milhares de brasileiros, milhares de leigos de
múltiplas atividades – foi impecável.)
O VILÃO DA HORA
Para a CartaCapital (dia 31, data de capa),
no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral é o vilão da hora. “O governador pior avaliado
do país perde o controle da situação”, escreve em manchete. Ele “ignora o
recado das ruas, continua a reprimir os manifestantes e é o administrador mais
reprovado do Brasil”.
Na mesma edição, Marcos Coimbra, colunista da revista,
sociólogo e presidente do instituto Vox Populi, analisa as pesquisas
pós-manifestações.
“Tudo considerado, Dilma (Rousseff, presidente)
mantém-se favorita (para as eleições presidenciais do ano que vem). “Se é
verdade, que Dilma desceu, é também verdade que nenhum de seus adversários
efetivos subiu. Apenas Marina Silva teve desempenho positivo. (...) Muita gente
admira Marina, mas poucos ficam confortáveis a imaginá-la no cargo”, opina
Coimbra, em CartaCapital.
O QUE TEMOS DE BOM
“Francisco, sendo argentino, sabe onde se meteu, que
continente é este, que país é este, e deve amar o que temos de bom, de belo, de
honrado, de afetivo, de alegre, de bravo, de resistente e firme”. Lia Luft, na Veja.
RECOMENDACÕES
Segundo o
jornal Estado de Minas, dia 28, em “Os dez mandamentos de Francisco”, o papa, que levou
mais de 3 milhões de fiéis à orla de Copacabana, na véspera, depois de uma
série de compromissos no Rio, deixa 10 recomendações aos brasileiros. “A
maioria do conteúdo é um dedo na ferida aberta entre a sociedade e os políticos
desde os protestos de junho e vai ao encontro do que o povo pede nas ruas.
Prega, entre outras coisas, o combate à fome e à miséria, o fim da corrupção, a
prática da humildade, o amor a Deus, o cultivo da solidariedade e de valores”.
BURRICE
“Esperar do papa Francisco uma ruptura com o dogma e a
moral do cristianismo em sua versão católica é mais que um despropósito: é uma
burrice. Ele está comprometido pela fé e pelo seu estado sacerdotal com um
corpo de doutrinas que atravessou mais de 2.000 anos e pelo qual foi eleito não
democraticamente, mas legitimamente pelos representantes da comunidade católica
universal”. Carlos Heitor Cony, escritor,
conhecedor de Igreja, na Folha de S. Paulo (27 de julho).
“PRESTO ATENÇÃO”
“Não
comento pesquisa. Nem quando sobe nem quando desce [puxa a pálpebra inferior
com o dedo]. Eu presto atenção. E sei perfeitamente que tudo o que sobe desce,
e tudo o que desce sobe”. Dilma Rousseff, em entrevista a Monica Bergamo, na Folha
de S. Paulo (28), para quem falou ainda que “Lula não vai voltar porque
nunca saiu (...). Eu e Lula somos indissociáveis”.
“ESSE PAÍS É O BRASIL”
“Considere um país que está entre os dez mais violentos do mundo: um dos países onde mais se morre por causa de tiro”, escreve Vinicius Torres Freire, em “Aquarela sangrenta do Brasil”, na Folha de S. Paulo deste domingo, 28 de julho.
“Nesse mesmo país, a população adulta mal passou da escola primária, em média. Nas estatísticas mundiais de anos de instrução, esse país está para lá de centésimo lugar numa lista de 185 nações”.
“Esse país fantástico também é um dos dez mais desiguais em termos econômicos (de renda individual, mas não apenas). Esse país é o Brasil”.
(...) “Por ninharias, o brasileiro rasga a fantasia fina de civilização e atira: é tosco e tem uma arma à mão para cometer barbaridades (quando não tem arma de fogo, tem um automóvel: somos um dos povos que mais se mata também no trânsito).
“Desigualdade de renda, social, de poder, violências, falta de educação: há algo de anormalmente errado com o Brasil. O "gigante" precisa acordar para isso”.
“Considere um país que está entre os dez mais violentos do mundo: um dos países onde mais se morre por causa de tiro”, escreve Vinicius Torres Freire, em “Aquarela sangrenta do Brasil”, na Folha de S. Paulo deste domingo, 28 de julho.
“Nesse mesmo país, a população adulta mal passou da escola primária, em média. Nas estatísticas mundiais de anos de instrução, esse país está para lá de centésimo lugar numa lista de 185 nações”.
“Esse país fantástico também é um dos dez mais desiguais em termos econômicos (de renda individual, mas não apenas). Esse país é o Brasil”.
(...) “Por ninharias, o brasileiro rasga a fantasia fina de civilização e atira: é tosco e tem uma arma à mão para cometer barbaridades (quando não tem arma de fogo, tem um automóvel: somos um dos povos que mais se mata também no trânsito).
“Desigualdade de renda, social, de poder, violências, falta de educação: há algo de anormalmente errado com o Brasil. O "gigante" precisa acordar para isso”.
DIA MUNDIAL DA
PRIVADA
“A diversão e o riso que possam seguir a designação de
19 de novembro como Dia Mundial da Privada já terão sido úteis se chamarem a
atenção para o fato de que 2,5 bilhões de pessoas não têm saneamento básico”.
Trecho de comunicado da ONU (Organização das Nações
Unidas), que oficializou a data para alertar para a realidade de 1,1 bilhão de
pessoas que não tem sequer acesso a banheiros. (O planeta alcançou 7,03 bilhões
de habitantes em abril de 2012, segundo o Fundo de População das Nações
Unidas.) Fonte: Veja.
OPÇÃO
“Entre a
indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o
diálogo”. Papa Francisco, no Correio Braziliense, dia 28.
PARA TERMINAR - Papa despede-se do
Brasil. O Brasil, nesta semana, sem choro, nem vela, cai na sua pobre realidade,
de suas mazelas, de muita fumaça, propaganda e pouca ação, da faminta base
aliada etc. Há previsão de novos protestos, com suas mensagens. O Brasil cai na
realidade?
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